segunda-feira, maio 23

A Arte de Escolher um Cavalo



Encontramos esse texto super interessante sobre o comportamento de pessoas de diferentes idades na hora de escolher um cavalo. O artigo foi extraído do Portal do Cavalo Crioulo com direito a poesia sobre a arte de selecionar um parceiro de montaria:

A paixão por cavalos se reflete no comportamento das pessoas. Assim como se conhece um homem pelo seu cachorro - esse animal assimila o caráter e o temperamento do seu dono - também as preferências eqüinas obedecem afinidades. As mulheres preferem mais as aparências: escolhem um chita, um pintado ou um tobiano, mesmo sendo cheios de defeitos, duros de boca, ruins de marcha, aporreados. São “os que se vende por bom preço, por terem o pêlo pintado” que se refere Ramiro Barcelos ao falar do “Chimango”, o Governardor Borges de Medeiros, seu inimigo político:

     “Não saiu lendo por cima,
     Mas, um pouco soletrado;
     Ficou sendo um aporreado
     Como tantos que eu conheço,
     Que se vendem por bom preço
     Por terem pêlo pintado.”

     (Ramiro Barcelos: “Antônio Chimango”).

O cavalo preferido por uma criança não é o mesmo que escolhe um homem de idade. O tempo vai mudando gostos... Depois dos setenta um homem prefere uma cadeira de balanço a um cavalo nervoso.
Guilherme Schultz Filho conseguiu expressar em forma de versos estas mudanças de preferências conforme a idade: “Em cada ronda da vida / eu tive um pingo de lei.../”
Quando ele era menino, além de uma egüinha bragada da cor da alvorada, tinha um peticinho faceiro, overo, com o nome de Fantasia - o alimento de toda criança. É raro o gaúcho, criado no interior, sem ter possuído um petiço.
Quando ficou moço, o poeta preferiu um belíssimo ruano. “Era um ruano - ouro nas crinas! - / festejado pelas chinas / que o chamavam “Sedutor”.
Já adulto, no apogeu da força e da coragem, escolheu um bagual “mouro fanfarrão”, difícil de ser dominado. Refletia a sua alma indomável: “O meu cavalo de guerra / chamava-se "Liberdade"! / Chomico! Quanta saudade / me alvorota o coração! / Era um mouro fanfarrão, / crioulo da própria marca / e eu ia como um monarca / na testa do esquadrão”.
Ao chegar na imprecisa meia-idade, quando a imprudência cede lugar ao juízo, o poeta preferiu um tostado, o exemplo de confiança e eficiência para qualquer serviço. Deu-lhe o nome de Confiança: “Homem feito e responsável, / o meu flete era um tostado, / tranco macio, bem domado, / (êta pingo macanudo!) / desses que servem pra tudo, / segundo um velho ditado”.
Depois, com o passar dos anos, a experiência da velhice lhe fez escolher um picaço bom de trote, porque galopes já não são da sua preferência... Qual melhor nome senão Experiência?:”O cavalo que eu encilho / nesta quadra da existência, / dei-lhe o nome de - “Experiência”.
Estes são os quadros da vida de um homem: fantasia, quando menino; sedução, adolescente; confiança quando adulto; na velhice, experiência.
Schultz termina o seu belíssimo poema - retrato da alma gaúcha - com os seguintes versos: / “E, assim, vou descambando. / ao tranco e sem escarcéu... / Sempre tapeado o chapéu / por orgulho de gaúcho / e se Deus me permite o luxo / entro a cavalo no céu!”

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